terça-feira, 5 de novembro de 2013

14. Traição traiçoeira

Falando sério... 

(por Raquel Lisboa)


          Traição é uma das muitas coisas de que não gosto. E para trair é muito fácil. Basta ninguém se compreender por qualquer motivo. É nessa hora que aparece o colega de trabalho bonitão, dizendo para a mulher casada o quanto ela é gata e a amiga “gostosona”, falar para o homem comprometido que ele fica bem de azul, por exemplo.


         Pronto. Por um momento as pessoas se esquecem de uma vida inteira e de tudo o que passaram juntos, inclusive dos bons momentos. Falta sinceridade para dizer:
-Não dá mais...
Porque é muito mais cômodo conciliar dois relacionamentos, do que abrir mão da estabilidade do matrimônio.

          Vou lhes contar uma história contada pela minha avó.
Isso aconteceu na Bahia, no ano de mil novecentos e não me lembro... Firmino. Esse era o nome do rapaz.  Homem direito, trabalhador e honesto. Trabalhava duro na cidade, fazia horas extras. Tudo o que ele mais queria era comprar uma casinha para sua família.

          Era casado e pai de dois filhos, Francisco e Juvenal. Apaixonado por futebol e pela sua mulher Joana, levava a vida com simplicidade e encontrava nas pequenas coisas motivos para sorrir.

          O tempo passou e as pessoas mais próximas de Firmino notaram que ele estava triste. Já não trazia o mesmo sorriso de outrora e andava impaciente nos últimos dias. Irritava-se facilmente com as crianças e com as pessoas.

          É... Realmente, nosso amigo estava com um sério problema. Ele trabalhava muito. Com sacrifícios comprou e mobiliou uma bela casa, até carro adquiriu com dificuldades. Sua mesa era farta, andava sempre arrumado e usava perfumes de boa qualidade. Sua família era um encanto, as crianças sempre engomadas pareciam ricas. A mulher usava sempre roupas de última moda e tinha os melhores calçados.

          Só uma coisa faltava para Firmino... O amor de Joana. Como pode uma mulher que não trabalhava fora, estar sempre indisposta para o marido? Aquilo só podia ser doença ruim.
O pobre Firmino rezava todas as noites, não queria que sua doce Joana morresse e o deixasse. Até uma mocinha para ajudá-la nos afazeres domésticos, contratou.

         Quando disse que a levaria a um médico, a mulher melhorou e passou a corresponder ao marido com uma maior frequência. De quinze em quinze dias.
Firmino não gostava de comentar essas coisas com os outros, mas seu pai o conhecia bem e indagou:

-Filho? Podemos conversar um instante?
-Claro painho...
-O que está acontecendo com você, hein?
-Nada não painho...
-É sua mulher, a Joana... Não é?
-É sim... Ela está adoentada, não sabe? Sempre indisposta... Falei que a levaria ao médico, ela chorou e pediu que eu não a levasse... Não quer ser tocada por mãos de ninguém. Se for para morrer, ela prefere esperar... O que eu faço painho?
O velho olhou-o e disse:
-Siga-me que vou orientá-lo e você fará tudo o que eu disser.

          Os dois seguiram até a venda de Seu Lourenço e Seu Teleciano comprou uma cola chamada SUPERBONDER. Firmino não compreendeu o que o pai fazia, mas não disse nada. Aguardou calado.

Depois, o velho entregou ao filho uma pistola e orientou:
-Amanhã, você irá para o trabalho e levará escondido de sua mulher essa pistola junto com a cola, em sua bolsa. Quando você estiver na metade do caminho, volte para casa.
-Painho, o senhor está variando, é? Para que devo fazer isso?
-Sei que é pacato, mas também sei e reconheço o quão esperto é... Deus lhe iluminará e lhe mostrará o que fazer...

          Firmino ouviu àquelas palavras, seu pai falava tão seriamente que não contestou. Jurou para o velho que faria conforme o combinado no dia seguinte.
          No outro dia de manhã, Firmino seguiu para o trabalho. Na metade do caminho retornou para casa e abriu a porta que estava destrancada. Observou que no pequenino sofá havia uma bolsa que não estava ali, quando saíra. Entendeu tudo e sabia exatamente o que fazer e aonde seu pai queria chegar com as palavras faladas no dia anterior. Rapidamente, abriu sua mochila e pegou a arma juntamente com a cola.

          Abriu a porta de seu quarto e surpreendeu Joana oferecendo a seu vizinho Alonso todos os desfrutes que foram negados a ele, por estar “doente”.
Uma dor invadiu o coração do pobre Firmino, que empunhando o revólver forçou a mulher a passar a cola superbonder no...  *“benefício” de Alonso.
Firmino estava tão alterado, que poderia atirar neles a qualquer momento. Joana obedeceu prontamente. Firmino berrou:
-Agora, segure o “benefício” dele... – a mulher obedeceu depressa.

          Em seguida, a casa foi invadida por uma multidão liderada pelo pai de Firmino, que sabia de tudo. Fazia muito tempo que Joana enganava ao marido, que cego de amor, se recusava a acreditar nas evidências.

Seu Teleciano chamou a polícia. Joana saiu de casa humilhada, seminua, segurando o “benefício” de Alonso, que também era casado.
          A mulher perdeu tudo o que tinha inclusive a guarda dos filhos.
Todos os moradores do bairro sabiam do caso de Joana com Alonso, menos Firmino e a esposa do traidor.

          Fazer o quê? Essa era a única maneira de Firmino abrir os olhos. Ele chorou, pois via o grande amor de sua vida partindo para sempre. Seu pai o abraçou:
-Filho, foi melhor assim... Você era muito para ela. Você tem caráter e encontrará outra mulher de igual valor... Isso vai passar...

E não é que passou mesmo?
         Hoje Firmino é velho e vive num sitiozinho ao lado da esposa Maria. Joana nunca mais foi vista por ninguém, não viu os filhos crescerem e simplesmente desapareceu. Alguém a viu há um tempo mendigando numa calçada em uma cidade vizinha...

É por causa dessa história e tantas outras que ouço por aí, que não considero a traição uma alternativa para determinados problemas conjugais.
         A alternativa certa é sentar, conversar e lembrar os bons momentos. Só assim podemos recordar o quão especial é aquela pessoa que está ao nosso lado e entender que no fundo, apesar dos pesares a amamos de verdade.  

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