domingo, 9 de março de 2014

16. Natal entre casais

(por Raquel Lisboa)






O Natal é sem dúvida, na opinião de muitas pessoas, ocasião de fraternidade e amor... Todavia, eu contesto esse parecer. Não o faço por causa do Papai Noel, pobre velhinho - digo, rico velhinho, que dá presentes para todas as crianças - mas por outro motivo.
Imagine você que no natal passado (2013) estive com alguns casais, visto que toda  a minha família viajou. Vou apresentar-lhe:

Sofia e Marcos
Tata e Gil
Drika e Baixinho
Lígia e Ceará
Meu bofe e eu

Bem... Todos esses casais estavam sem parentes e sem lugar para ir. Então nos reunimos em casa. Na véspera de Natal, houve uma festinha entre amigos com música e bebida para quem gosta. Enquanto todos bebiam e dançavam, eu fazia algo de que gosto muito: Comer. Sim senhor, comi muitooooooo. Nada de esperar meia noite, fui a primeira a assaltar a sobremesa. Quem bulinou as gelatinas, mousses, bolos e tortas doces e colocou a culpa nas crianças? Sim, euzinha! Descobri que além de dar gasto e amor aos pais, as crianças também servem para levar a culpa, quando nós os adultos fazemos as traquinagens...
Fiz e não nego. Até porque o espírito natalino não deixaria os pais castigarem os pestinhas, digo, os anjinhos...

Tudo estava bem. Para mim nada ficaria melhor. Barriga cheia, roupa nova e um bofe para elogiar. Os outros casais pareciam felizes. A Sofia dançava alegremente enquanto Marcos a admirava. Gil chamou Tata para dormir, mas ela resolveu ficar e, com um sorriso, ele foi para casa descansar. Drika e Baixinho, permaneceram na festa durante a noite inteira. Lígia, cansada, chamou o Ceará para dormir, mas ele também resolveu ficar.

Meu bofe e eu fomos dormir, afinal de contas eu já estava com a barriga cheia de doces, churrasco e refrigerante, nada mais me interessava ali.
7:00 hs da manhã, ouvimos uma discussão no quintal. Era a Drika e o Baixinho que estavam discutindo.
Drika é uma mulher cinquentona, mas com a alma juvenil. Ela é do tipo que se veste bem e que encara a idade como algo que serve apenas para torná-la mais bonita e madura. Por outro lado, o seu marido Baixinho tem 29 anos e a alma mais velha do que a de Dom Pedro I... Sim, ele é exatamente às antigas, ciumento, possessivo, machista, etc.

Tudo começou porque a Drika resolveu levar o som embora. Baixinho queria continuar bebendo e escondeu as chaves de casa para que a mulher permanecesse na festa. O filho dela de 30 anos, Lezinho, intrometeu-se:
- Ei, Baixinho, por que você não devolve a chave de casa para a minha mãe?
- Porque ela pega o carro e se "pica" no mundo. Da última vez que ela sumiu, eu liguei no celular dela e um homem atendeu... - respondeu Baixinho, bêbado.
- Você tá chamando a minha mãe de vagabunda? - perguntou Lezinho, igualmente ébrio e alterado.
- Não... Eu não disse isso... Eu só to dizendo que uma vez eu liguei prá ela e um "macho" atendeu...

O que, a meu ver, é a mesma coisa. Depois de muita gritaria e confusão, os que ficaram durante a noite retornaram para suas casas.
9 horas da manhã, o meu digníssimo bofe resolveu lavar o carro. A nossa casa fica ao lado da casa da Drika e meu marido percebeu quando duas testemunhas de Jeová bateram palmas no portão deles. Sem críticas a religião, nós sabemos que nem todo mundo gosta de atender essas pessoas, pelo fato de estarem sempre ocupadas. O que não foi o caso de Baixinho que, além de atendê-las completamente sonolento, ainda as recebeu com um sorriso:
- Que bom que vocês vieram...
As testemunhas, felizes por serem bem atendidas, começaram a falar do evangelho. Cinco minutos se passaram, Baixinho escorando-se para não cair, disse:
- Foi bom vocês terem vindo, mas me dão licença que vou dormir um pouquinho...
As moças saíram cabisbaixas. 

Meio dia, hora do almoço. Todos os casais que estavam juntos e felizes na noite anterior, apareceram sem seus respectivos cônjuges: Sofia, estava sem Marcos. Ela disse que ele ficou com ciúmes ao vê-la dançando. Minutos depois, Tata apareceu sem o Gil, devido ao fato de ele ter ido dormir sozinho e ela ter ficado na festa. Por esse mesmo motivo, Ceará chegou sem a Lígia. Ela não gostou nada por ter ido para casa e ele permanecer.
Depois, chegou a Drika, sem o Baixinho...


Todos os meio casais me olharam como se perguntassem o que eu achava daquela situação. Então eu disse:
- Sabe de uma coisa? - todos permaneciam em silêncio, esperando uma palavra amiga. Então, prossegui:
- Eu acho que algo está errado... Não é possível todos os casais brigarem de uma só vez e somente meu bofe e eu estarmos de bem... Para ficarmos todos iguais, acho que vou brigar também! - E dirigindo a meu marido, continuei:
-Mor, você ronca como um trator, fala mais que o homem da cobra, é ranzinza, melquetrefe e barrigudo...

Todos sorriram. Meu marido defendeu-se:
-Ah, é? E você é branquela, falastrona, comilona, gulosa e metida, mas é a mulher que eu amo!
- Também te amo, bobão! - disse, dando-lhe um beijo na bochecha e caindo em seus braços.
Fomos aplaudidos pelos meio casais que seguiram cada qual para a sua casa, em busca de seu par!

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